Conheça Bill Butler, o Pai do Roller Disco
|Ele trouxe a música de dança para o Empire Rollerdrome no Brooklyn, e ensinou gerações de patinadores a patinar, dançar e ser diferente.
Quando Grace Jones estava se pavoneando pelo Studio 54 e as gravações de Donna Summer estavam tocando em todos os clubes de Nova Iorque, o Empire Rollerdrome estava atingindo seu auge no Brooklyn.
Era no final dos anos 70, a febre das músicas de discoteca estava no auge, grandes grupos de Afro descendentes e gays denominados Brooklynites havia passado uma década dançando e patinando no Empire. Ao contrário da elite das discotecas de Manhattan, o ringue era um espaço de boas vindas, sem tapetes de veludo e porteiros seletivos. Qualquer um com alguns dólares na carteira poderia entrar.
Na medida em que o lugar tornou-se um “point” da vida noturna, patinadores e celebridades de diferentes partes da cidade viajavam até o Empire para experimentar seu milagroso piso de carvalho, onde o estilo Detroit Stride encontrou-se com ao estilo Cincinnati e o gingado do Brooklyn. Até mesmo Cher curtiu festas por lá. Bem Vereen e John F Kennedy Jr. deslizaram pelo ringue.
No centro de tudo isto estava Bill Butler, um patinador que teve seu talento e destreza consagrados em seu vário apelidos: Brother Bounce (irmão do gingado); Mr. Charisma (Senhor Carisma); e vários outros como The King (O Rei), The Grandfather (O Vovô) e o Pai do Roller Disco.
“Ele fazia todas estas coisas que pareciam impossíveis – giros e mergulhos, e mudanças de direção em uma moeda,” disse Elin Schoen Brockman, que apresentou seu perfil para o New York Magazine. “Era como assistir um “dervish” giratório.”
O Estilo de patinação de Butler, artística – que foi elaborada em torno de mergulhos rítmicos, piruetas, cruzadas e curvas – atualmente é visto pelos aficionados dos patins como os primórdios do “Roller disco.”
Quando ele começou a frequentar o Empire em 1950, Butler simplesmente queira patinar e nada mais.
“Eu não sabia nada sobre o Empire,” afirma Butler, agora com 87 anos, em uma entrevista em vídeo de sua casa em Atlanta. “Eu não sabia que iria sacudir o lugar na época.”
Desde o começo, Butler pressionou por novos ritmos. Tradicionalmente, os ringues costumavam contratar músicos para tocar músicas de discoteca em órgãos, frequentemente comprados usados de igrejas e teatros. Ou eles tinham DJs que misturavam músicas em tempos determinados para permitir que os patinadores conseguissem atingir os pontos desejados.
Foi em 1957, quando ele era um jovem na Base da Força Aérea, que Butler foi pela primeira vez ao Empire. Ele chegou no seu uniforme com um LP (disco Long Play de Vinil) de Jimmy Forrest e Count Basie’s “Night Train” debaixo do braço e convenceu o DJ a tocar pra ele. Na medida em que o balanço do blues preencheu a ar, Butler realizou seus movimentos, girando através dos patinadores e patinando de costas para a música.
Por volta de meados dos anos 60 ele tinha convencido Gloria McCarthy, a filha de um dos donos do Empire, para trocar a música. As sextas-feiras se tornaram as noites de Bounce, quando a música popular – jazz, R&B, funk e depois a de discoteca – começaram a sair das caixas de som.
No começo dos anos 70, o Empire substituiu o seu organista com um DJ. Em 1980, o designer de som do clube Richard Long – que tinha criado sistemas para lugares como o Studio 54 e Paradise Garage – remontou o ringue, nomeado então de Empire Roller Disco, com 20.000 watts de sistema em estéreo.
Este foi o Empire no seu ponto mais alto. “Era como uma Mecca,” disse Robert Clayton, que trabalhou lá como o DJ Bog Bob por mais de 20 anos. “Você não patinava a menos que fosse ao Empire.”
O patinador que a maioria vinha para ver era o Butler, com seus movimentos extraordinários que conquistavam admiradores e lhe trouxeram muitos alunos. Até mesmo Cher o contratou como seu parceiro de patinação para uma noite no Empire logo após o lançamento de seu disco inspirado na patinação “Hell on Wheels.”
“Se você estava patinando com ele não estava com medo de cair,” disse a Senhorita Brockman, uma repórter em uma entrevista pelo telefone.
“Quando você vai a um ballet e você observa os dançarinos, você não pensa que os pés deles podem estar doendo,” acrescentou ela. “Esta foi a maneira que Bill fez com que a patinação parecesse; ele a fez parecer fácil, e eu acredito que ele criou uma forma de arte.”
Butler, que cresceu em Detroit, aprendeu a patinar lá em 1940, começando sua carreira no Arcádia Roller Ring na Avenida Woodward. Os patinadores afro descendentes só eram permitidos no Arcádia uma vez na semana e, nestas noites, ao contrário de um organista tradicional, o ringue costumava contratar um DJ para tocar soul e R&B.
“Nós costumávamos chamá-lo de ‘Roller Rocking,’” disse Butler para a revista Rolling Stone de 1979. “Tudo que eles fizeram foi mudar os nomes no decorrer do tempo. Afro descendentes já patinavam por mais tempo do que eu posso lembrar. Mas os termos não são importantes – é a patinação. É a maneira como você move seu corpo com a música.”
No Arcádia, o garoto de 10 anos Bill observou que um patinador chamado de Archie movia seu corpo, assombrando a plateia ao deslizar de costas com seu cabelo alisado para trás e as botas desamarradas.
“Ele estava patinando no sentido horário enquanto o restante de nós estava patinando no sentido anti-horário, e apenas isto já me deixou louco,” disse Butler na entrevista.
Após isto, Butler usou o dinheiro que tinha ganhado entregando compras para comprar seu próprio par de patins pela soma expressiva de 23 dólares. Mas ele não estaria preparado para patinar, disse ele, até que ele pudesse comandar o ringue como Archie fazia. Então começou a praticar no porão da família, desviando por aquecedores de água e depósito de carvão enquanto tentava aprimorar suas habilidades.
Ninguém sabia que ele estava patinando, disse ele; ele era um solitário – tomando o ônibus para o ringue e de volta por conta própria. Mesmo após se alistar na Força Aérea e começar a viajar, ele ainda assim dava suas saídas da base por conta própria para frequentar os ringues de patinação locais.
Quando ele se mudou para o Brooklyn em 1957, ele trouxe consigo a sua música e um enorme pacote de movimentos e técnicas que pegou por todos os lugares de patinação que passou. Em breve, disse ele, estava passando a maioria de suas noites no Empire, onde começou a dar aulas para aqueles que tinham interesse no seu estilo.
Ele se denominava um “jamma”, um termo que pegou emprestado do jazz e o Roller Derby. (No Roller Derby isto se refere a um membro do time que tenta estar à frente do grupo e, geralmente, dá voltas ao redor do grupo). Jammas, disse Butler, constroem seus movimentos ao focarem em pontos de relevância dos patins. Rodando seus movimentos em diferentes pontos das partes interna ou externa da bota permite que os patinadores obtenham maior aderência ao solo e impulsionar com foco e potência.
“Se você dominar a técnica, a parte da improvisação vem sem dificuldade,” disse ele. “Você tem a sofisticação para ser um improvisador – uma pessoa que pode patinar em sintonia com o ritmo.”
Esta foi a maneira que ele ensinou gerações de patinadores, e o que ele trouxe aos cinemas. Ele trabalhou como diretor de patinação em filmes incluindo “The Warriors” (1979), “Xanadu” (1980) e mais tarde “Roll Bounce” (2005), que ajudou a adicionar um mundo descolado e deslumbrante à patinação e inserir na linha de cultura pop.
Butler também abriu uma escola de patinação em Long Island, onde estava morando. Pelo final dos anos 70, ele estava recrutando novos estudantes e dedicado ao Brooklyn regularmente para continuar a ensinar no Empire.
Uma de suas antigas estudantes, Denise Speetzen, tinha apenas 11 anos quando começou a treinar com Butler nos anos 80. Na medida em que ela cresceu e encontrou patinadores de todos os lugares, ela descobriu uma paixão comum.
“Eles diziam, ‘Oh, nós sempre patinamos desta maneira porque é o tipo de música que gostávamos, portanto temos este ou aquele meio de girar ou performar,” ela disse. “Mas se você conversa com eles mais e mais e faz um retrospecto de quem ensinou cada pessoa é como se estivesse fazendo uma árvore genealógica.”
“Na verdade, ao fazer o retrospecto,” continua ela, “tudo irá finalizar lá atrás com Bill.”
O Sr, Clayton, que viajou por ringues ao redor do mundo como um hóspede DJ, também reconheceu a assinatura de Butler. “Tudo aquilo veio mesmo de Detroit,” disse Clayton, se referindo aos movimentos populares como os trens de patinadores e as quedas por tensão, “mas ele refinou isto tudo e melhorou.”
Em 2003, Butler mudou-se para Atlanta, onde ele continuou a ensinar em ringues locais. Após 77 anos aprimorando seus movimentos por ringues ao redor do mundo, a pandemia o forçou a pendurar seus patins por ora. Ele diz que planeja patinar e ensinar novamente assim que for seguro.
E sua ideia sobre a patinação não mudou.
“O espaço mais a batida é igual ao que fazemos com nossos corpos e pés,” disse ele. “É de onde eu venho.”